A Transcendência de um Artista Marcial

A Transcendência de um Artista Marcial

A Transcendência de um Artista Marcial, uma analise sobre os aspectos que transcendem um Artista Marcial.

Comentado por Grão-Mestre leo Imamura dentro de uma perspectiva Kung Fu.

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Karate Kid foi lançado no Brasil no dia 28 de setembro de 1984. Aqui ele foi chamado de “Karate Kid: a Hora da Verdade”.

Foi um filme que deu um importante impulso às artes marciais, principalmente nos EUA, quando foi lançado 3 meses e seis dias antes de seu lançamento no nosso país.

Sua cena final envolve o chute da garça, que passou a ser um marco do filme, mas com evidente efeito dramático de pouca valia para um combate entre experientes lutadores.

O próprio Fundador da Shotokan, Gichin Funakoshi, nos relata que Sokon Matsumura, considerado por muitos o maior instrutor vivo de sua época, disse que “somente um novato abriria com um chute duplo ao enfrentar um oponente que se sabia ser muito mais competente.”

Por sua vez, Kikku no Oni, foi uma serie lançada em outubro de 1970 e foi conhecida no Brasil como Sawamu, inspirado na carreira do lutador Tadashi Sawamura, famoso por seu Shinku tobi hiza geri, traduzido na versão brasileira como “Salto no Vácuo com Joelhada”.

A unificação destas duas obras dentro da Perspectiva Kung Fu tem um nome: Lyoto Machida. É sobre esta relação que irei discutir com você hoje neste nosso encontro na Vida Kung Fu.

Para mim Lyoto Machida era filho do Sensei Yoshizo Machida, respeitado mestre de Karate, desde os meus tempos que praticava esta maravilhosa arte marcial.

Hoje é evidente que el construiu seu próprio nome, através de vários feitos alcançados no MMA. Em 2011, ele enfrentou e derrotou o legendário Randy Couture com um chute que contrariou até Sokon Matsumura. Um chute improvável que reproduziu o chute da garça de Daniel Larusso no filme Karate Kid.

Passados mais de 8 anos, o mesmo Lyoto Machida derrotou o folclórico Chael Sonnen com uma joelhada voadora, que me transportou para o desenho Sawamu, com o seu “salto no vácuo com joelhada”. Estes dois feitos que remeteram a duas ficções, mostram as possibilidades de movimentos que muitos consideravam fantasiosos e impossíveis de serem realizados entre lutadores profissionais.

Reparo que os jovens praticantes de artes marciais consideram o MMA uma importante referência de efetividade prática. Mas é importante lembrar que as artes marciais são muito mais que o MMA e que há muitos outros parâmetros de efetividade além do que se é permitido neste tipo de atividade.

Por outro lado, a beleza do MMA está justamente em possibilitar que lutadores com elevada carga de preparo para o combate em espaço confinado, um ring, ou um octógono no caso, possam se enfrentar dentro de limites que permitem grande criatividade.

Desta permissão é que surgem manifestações tão impressionantes como as de Lyoto Machida. Muitos associaram o seu chute a um Nidan Geri, ou seja, chute duplo.

Mas a rigor o chute que ele desferiu em Couture é mais “um chute e meio”. Realmente mais parecido com o chute da garça de Daniel san. A diferença é que o adversário de Daniel avança todo aberto para o ataque. Já Lyoto força seu adversário a recuar em diagonal para receber o chute decisivo.

Aqui vemos a vida não só imitar a arte, mas também fazer melhor. No caso das joelhadas desferidas em Sonnen, o timing dos golpes foi extremamente refinado, visto que somente assim a complexidade da ação poderia resultar em golpe efetivo.

Transformar a dificuldade em facilidade é uma das grandes características do Kung Fu, conforme nos disse o Prof. Francois Jullien em entrevista em seu escritório na Universidade de Paris. E através dos movimentos descritos, Lyoto Machida manifesta o seu Kung Fu, que transcendeu o limite das regras impostas para o combate.

 

 

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