PATRIARCA MOY YAT
Nascido Moy Yit Kai na aldeia Yau Gam, vila Duen Fan, no distrito de Toi Shan da província de Kwong Tung, esse homem de sete instrumentos também assinava Moy Yat, Ah yat, Moy Go Yan, Ngau Gwu Chai Chu e Bing Heong Tong Chu. Embora sua mãe, a sra. Moy Chan Bik Sheung, o tenha dado a luz a 27 de junho do ano tigrino de 1938, Moy Yat sempre preferiu anunciar seu aniversário natalício como 28 de junho, crente na auspiciosidade do número oito. Populacho, ao nascer, já tinha ele um irmão, Moy Yat Jun, e irmã, Moy Mo Cheng.
A perda do pai, o pintor Moy Chung Lan, ocorrida em sua meninice, deixou em dificuldades a sr. Moy, que se viu responsável pela criação do filho caçula sem a tão importante figura paterna.
Talvez seja possível dizer que essa mesma perda tenha, também, feito germinar no espírito daquele jovem a semente do seu desejo de aprender Kung Fu.
Quatro anos após sua mudança para Hong Kong, em 1953, foi apresentado ao venerado Chung Si Ip Man por Moy Bing Wah , quando teve a oportunidade de iniciar seu aprendizado de Ving Tsun Kuen, o que se deu no Mo Kwun em Lee Uk Estate, um dos mais pobres e antigos conjuntos habitacionais da cidade, onde, além de não haver sequer condições básicas de saneamento, o espaço era enormemente restrito.
Como discípulo, pôde aprender a arte através do tradicional método de transmissão que , mais tarde, ele denominaria “vida Kung fu”, tendo tido a rara oportunidade de compartilhar, por cerca de 15 anos o dia-a-dia de seu Si Fu, a ponto de chegar a ser considerado por muitos o seu braço direito.
Tornou-se, aos 24 anos, na linha direta de descendencia da fundadora, o mais jovem dos Si Fu de Ving Tsun legitimamente reconhecido perante a tradição até aquele momento.
Sua carreira teve inicio em 1962,quando inaugurou o Ving Tsun Moy yat Kin Hok Yuen(instituto de saúde de Moy Yat do Ving Tsun), em Mong Kok, Kowloon. Em 1973, após o falecimento de seu Sifu no ano anterior, imigrou com a familia para Nova Iorque, onde fundou Mo Kwun em dois endereços: o primeiro, no Brooklin, a que intitulou Ding Lek Mo Kwun,inaugurado no ano que seguiu ao de sua chegada á cidade, em parceria com um colega, Si fu deBak Hok Kuen, o outro teve inicio no ano de 1979, em chinatwon, primeiramente no 2°, e finalmente, no 6° andar de um mesmo prédio, onde ainda permanece.
Talvez porque conduzisse o ensino segundo os moldes clássicos com extrema discrição, muitos chegaram a crer que ele, de fato, não ensinava Ving Tsun. Obviamente, o elevadíssimo nível dos mestres formados sob sua tutela, dentre os quais não poucos estão as maiores autoridades vivas da arte, revela precisamente o contrário. A aparente negligência pedagógica nada mais era que apurada e sutil eficácia, manifestação disfarçada do mais alto grau de maestria, do qual se espera que os efeitos advenham, mas seu autor não seja a eles associado. É o que a melhor filosofia ilustra através de expressões como Kwong tak yuek bat juk ” a larga virtude parece insuficiente”, ou tai bak yeuk yuk, a “grande candura parece ultraje”.
Em 28 de junho de 1997, anunciando sua aposentadoria, por ocasião da festa de celebração de seus 60 anos, Moy yat desobrigou-se formalmente de seu cargo de Si Fu, certo de tê-lo bem cumprido, após 35 anos de acurada dedicação.
Afora ter permitido a continuidade do legado ancestral por mais gerações, tarefa que , agora, é continuada por seus discípulos, teve seu próprio nome identificado á mais alta qualidade deVing Tsun : associar Grão Mestre Moy Yat ao Ving Tsun é significar Ving Tsun puro.
Moy Yat também exercitou bastante sua veia de escritor. Levam sua assinatura os seguintes livros: Suen Hak Yip Tam ( dispersos sobre inscultura sigilar ), 108 Muk Yan Jong, Ngau Gwu Chai Yan Po ( catálago sigilografico do “Ngau Gwun Chai”, Ving Tsun Kuen Kuit, A legend of Kung fu Masters, Ving Tsun Trilogy, Dummy – A tool for Kung fu e Luk Dim Poon Kwan.
Além dos livros, o Grão-Mestre foi, também, autor de videos-teipes, mormente sobre Ving Tsun.Iniciou sua obra com um vídeo produzido por Moy Tung, no ano de 1987: Stories of zen.
A ele, se seguiram algumas dezenas de outros, dos quais são exemplos: Ving Tsun essencial,Moy Yat’s World, We are from the red boat, The lock, etc.
O Mo Lan Go Sao deixou sua habilidade se espraiar tambem pelo campo das artes delicadas. Nele, não teve formalmente professor algum, tendo se consagrado como auto-didata. Seus principais trabalhos estão nas áres da pintura, da caligrafia e da inscultura Sigilar.
Organizou, em 1974, o Mei Tung Su Wa Wui (associação de Pintura e Caligrafia do Leste Americano), onde ensinou Inscultura Sigilar. No ramo artístico, veio a atuar, ainda, junto ao The Museum of Natural History e a academy of chinese arts, ambas as instituições sediadas na cidade de Nova Iorque.
Seu brilhantismo na pintura pode ser visto através de uma de suas criações, os bem conhecidos Blush Strokes, imagens monocromáticas abstratas de traços simples e cunho erótico.
A obra não encontra precedentes na arte chinesa, na qual os temas recorrentes têm sido, há séculos, figuras humanas, motivos religiosos, paisagens, flores, animais, insetos e assim por diante.
Na inscultura Sigilar, se comprazia em explorar os diferentes materiais existentes e suas possibilidades de gravação. Buscando inovar, chegou a pôr brocas à prova na abertura de materiais de dificil talhe, como o marfim, o jade e o cristal. Além disso, aventurou-se a insculpir selos com caracteres ocidentais, a fim de permitir a apreciação da arte por um maior número de pessoas.
O polímata estudou ainda outras manifestações culturais de seu povo, tais como a ópera, a música, a poesia, a literatura, a medicina tradicional. Suas aptidões sempre foram amplamente reconhecidas por seus pares, que sempre lhe ressaltaram a genialidade e a versatilidade, inclusive postumamente. E, 2002, por exemplo, foi disposta, no Disciples Room do Ip Man Museum, na china, sua sucinta biografia bilingue(ingles/chinês), mencionado-o entre os principais seguidores do ultimo patriarca. Nela, foi dito possuidor de Ma Mo Seugn bing, “man e mo ambos pervasivos”. É pena que tal não registra o texto em inglês.
O dono desse opulento cérebro, que conseguiu ser especialista em tantos assuntos, distantes uns dos outros, e em todos com proficiência, seriedade e desvelo, deixou este mundo a 23 de janeiro de 2001 – o vigésimo nono dia duodécimo mês, os ultimos dias e mês, do ano do dragão – em sua própria residência, no Queens. O sepultamento ocorreu dez dias depois, no Kensico Cemetery, onde foi fincada a lápide até a qual os seus irão relembrá-lo, de tempos em tempos. Seu assento ficou vazio, mas seu legado perdura através dos livros que escreveu, dos quadros que pintou, dos selos que insculpiu, dos mestres que forjou e, acima de tudo, através do entusiasmo que instilou – e que ainda instila – em cada um dos que a sorte escolheu – e que ainda escolhe – para tomar com sua monumental obra.