Como pensamento classico chinês aborda o termo Kung Fu
Termo Kung Fu
Doutor Ngai Pui Man 倪培民, professor da Grand Valley State University. Ele atualmente é Presidente da Society for Asian and Comparative Philosophy e é editor-chefe de uma série de livros sobre filosofia chinesa.
Segundo o Professor Ngai Pui Man 倪培民, a essência do Kung Fu 功夫 pode ser encontrada em várias artes e orientações sobre como cultivar a pessoa e sua vida.
Eruditos do Neoconfucianismo 宋明理學 usavam o termo Kung Fu 功夫/工夫 sob diferentes significados. Baseado na constatação da ampla abrangência do termo, ele elencou os seguintes empregos para esta noção:
(1) esforços dispendidos em algo,
(2) modos apropriados de realizar esforços (empregando tempo) ou instruções particulares sobre como realizar tais esforços, sentido no qual podemos falar sobre Kung Fu 工夫 como uma forma de arte,
(3) incorporação das habilidades resultantes destes esforços, e (4) os propósitos das habilidades alcançadas.
Para ele, o Kung Fu 功夫 permite perceber a união do homem à ação de uma maneira que a ação humana não é tratada meramente como um resultado de escolhas racionais ou procedimentos técnicos, mas como resultado do cultivo humano.
Professor Ngai 倪 é autor de diferentes expressões como Perspectiva Kung Fu 功 夫 e Dimensão Kung Fu 功 夫 , nos quais ele se refere como uma abordagem pragmática com uma clara ênfase no cultivo e na transformação da pessoa.
Ele nos explica que um mestre de Kung Fu 功夫 faz boas escolhas e usa efetivamente seus recursos com base na sua pessoa como um todo, incluindo seus sentimentos, e que sua excelência é manifestada não só pelas consequências da ação, mas também pelo estilo artístico que é realizado.
É minha opinião que a noção de Kung Fu 功夫 passou a chamar atenção dos especialistas a partir da propagação do seu “sentido um tanto redutor”, ou seja, “Kung Fu 功 夫 como arte marcial chinesa que depois se estendeu para um gênero cinematográfico”.
A despeito da opinião qualificada dos sinólogos que mencionei, penso que ninguém estudou mais profundamente e por tanto tempo a questão de como explicar o Kung Fu 功夫 no Ocidente como o Patriarca Moy Yat 梅逸.
Sua experiência privilegiada com o Patriarca Ip Man 葉問 permitiu com que ele enxergasse a importância dessa noção e sua dificuldade de entendimento no mundo atual.
Aprendi com Patriarca Moy Yat 梅 逸 que não se pode forçar o desenvolvimento do Kung Fu 功夫 e nem ter expectativa precipitada sobre ele. O resultado será o que tiver que ser, ou seja, natural. O processo gerará o efeito por si mesmo. Por este motivo que quando falamos de “esforço” em Kung Fu 功夫, referimonos ao esforço “de não forçar” para assim “favorecer o favorável”.
Abaixo, irei compartir o meu entendimento do que Patriarca Moy Yat 梅逸 transmitiu a mim ao longo dos nossos 14 anos de convivência:
“Kung Fu 功夫 aprende-se sem saber que está aprendendo. É quando você se dedica à prática, mantém-se estudando e continua a aprender até você atingir um determinado nível onde o que faz é muito simples e tem significado profundo.”
“Não se aprende Kung Fu 功夫 através do ensinamento de alguém. Não se pode aproveitar o resultado adquirido por outra pessoa. Por isso, não basta ir até um mestre que tenha algo bom para oferecer, adquirir um certo conhecimento técnico e ir embora. Se aprender algo assim, quando precisar empregá-la, não saberá como.”
“Para aprender Kung Fu 功夫, você precisa senti-lo. É preciso dedicar tempo para estudá-lo. É um processo de convivência com o seu mestre.
O Patriarca Moy Yat 梅逸 (direita) aprendendo Kung Fu 功夫 com seu mentor, Patriarca Ip Man 葉問 (centro), que era um escolástico e manifestava seu kung fu através de discussões com pessoas como o Professor Chan Yu Shan 陳語山 (esquerda), renomado artista e intelectual chinês.
Para isso, você tem que imergir dentro do processo de aprendizado. Como um monge nu que senta sob a lua e fica exposto à luz do luar, assim deve ser o processo de quem quer aprender Kung Fu 功夫.”